Por favor…

por Finólia Aroeira

tampando-ouvidosMeus queridos, ainda lembro a primeira vez em que, na companhia de minha madrinha, assisti aos desfiles das escolas de samba na avenida Presidente Vargas! Naquele ano, o carnaval aconteceu no início de fevereiro e nós saímos da Ilha do Governador, num domingo, rumo ao centro da cidade e meus olhos brilhavam diante das novidades que a cidade começava a me revelar. Era tudo bem diferente de São João Del Rei: a igreja da Candelária, os prédios, tudo…

Mal sabíamos que em pouco tempo ocorreria o famoso golpe militar de 1964. Havia um ou outro falando sobre o assunto, mas as pessoas estavam mesmo mais interessadas em ver suas escolas passarem pela avenida e enquanto o desfile não começava, ouvia-se marchinhas, e a “Cabeleira do Zezé”, era o hit do momento.

Aquele ano o campeonato foi da Portela. Com o enredo “O Segundo Casamento de D. Pedro I”, a escola levantou o público presente, dando trabalho à polícia que fez os cassetetes cantarem no lombo daqueles que insistiam em invadir a pista!

Quando avistei o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira da azul e branca de Madureira, Vilma Nascimento e Benício, bailando, meu coração parecia saltar de tanta felicidade. Senti uma emoção que marcou minha adolescência e toda minha vida.

Aqui, nesta cidade, vivi, acredito, carnavais de verdade, onde o samba e a alegria tinham muito mais importância do que simplesmente aparecer. Está pesado ver os rumos que a folia momesca tem tomado atualmente.

Como que uma rainha de bateria, que de nada serve para o andamento de uma escola, que não é quesito, coloca um tapa-ouvido para que o som não prejudique sua audição?

Seria melhor ocuparem o posto com uma mulher, linda e surda! Garanto que teriam, disparadamente, muito mais visibilidade. Como se recusar a ouvir o pulsar do coração de uma escola de samba?

Falta coração e respeito às raízes do carnaval!

Finólia Aroeira, do Leme para o mundo/ 2015

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