Confira a sinopse da Em Cima da Hora/ Carnaval de 2025!

A Em Cima da Hora apresenta o enredo para o Carnaval 2025: “Ópera dos Terreiros – O Canto do Encanto da Alma Brasileira”! Ópera de Aldo Brizzi e Jorge Portugal. Confira a sinopse.

GRÊMIO RECREATIVO ESCOLA DE SAMBA EM CIMA DA HORA

CARNAVAL 2025

ENREDO:

ÓPERA DOS TERREIROS – O CANTO DO ENCANTO DA ALMA BRASILEIRA

Argumento:

A realidade pungente em nosso país a respeito do preconceito racial, é ainda uma ferida

intensamente viva, expondo o que há de mais desumano e irracional na humanidade, e por

consequência, corrobora na desigualdade, no ódio e na intolerância. Tão dura e cruel realidade

não conseguiu apagar por completo a ascendência e a identidade dos povos que foram

sequestrados de sua terra, separados da sua gente, da sua família e de tudo mais que os

dignificavam. E, ainda que aportando nestas terras como escravizados, buscaram construir

meios e formas de permanecerem ligados a sua origem, a sua essência, transcendendo à dor e

ao sofrimento, em nome da sua verdadeira ancestralidade.

Reconstruir uma genealogia cultural que mantivesse ligações com sua terra natal ainda é

tarefa que perdura desde a longa travessia entre a África e o Brasil. Mesmo à revelia das dores e

limitações que os envolveram, eles assim o fizeram. Cantaram seus cantos de fé, dançaram

para seus santos, irmanaram-se, lutaram por liberdade, assentaram seus terreiros, criaram

ritmos e laços de irmandade, construíram pontes através da arte e da cultura, buscaram seus

espaços, firmaram seu ponto, fizeram-se luz onde havia ignorância e fé a quem temesse por

justiça.

Trazer para o palco do carnaval o enredo sobre a Ópera dos Terreiros é fazer jus a toda

jornada do povo preto, partindo da primazia do pertencimento e da ancestralidade, que ganham

novas formas de demonstração e que vão conquistando novos espaços e palcos através da arte,

como o canto erudito e operístico. Isso enaltece os distintos povos que para cá vieram para além

dos Bantos e Nagôs. E reforça as infinitas possibilidades de que o negro, com sua cultura, pode

chegar a lugares inimagináveis no Brasil e no mundo.

A Ópera dos Terreiros é o ponto de partida para uma reconexão ancestral pelo prisma da

cultura e da fé, genuinamente alicerçada em Salvador, na Bahia de todos os santos, casa

primeira, terra primeira fora do seu habitat. Com toda a resistência e com todo o axé,

construíram o seu espaço de pertencimento, seus costumes e sua forma de ser no mundo. Com

sua identidade e empoderamento preto, fazem-se presentes, tornando protagonistas em todos

os terreiros em que vier a pisar, gestando, assim como representado na ópera, os filhos seus,

um Brasil do futuro. Um novo Brasil. Um Brasil novo!

Salve o canto negro para além da dor e do sofrimento!

Abram-se os caminhos para o canto negro passar!

Justificativa:

O carnaval e as escolas de samba possuem entre muitas funções o papel de

mantenedoras e produtoras de cultura. E sua cultura é negra por essência. Sua matriz é africana

e porque não dizer, baiana também.

O Grêmio Recreativo Escola de Samba Em Cima da Hora traz para o seu carnaval a

Ópera dos Terreiros, obra pertencente ao roll de espetáculos do Núcleo de Ópera da Bahia,

instituição que promove a representação da cultura negra em sua ancestralidade dando o

protagonismo aos seus atores/cantores, contribuindo para o descortinar de histórias que

guardam signos sagrados e transmitem a essência de um povo.

A união entre o erudito e o popular não é em si uma novidade, mas rara de se vê quando

a ênfase se dá na negritude, a africanidade, na construção do saber cultural do negro em todos

os espaços. Soma-se a esse fator a importante contribuição dos povos pretos à formação

cultural do Brasil, com suas religiões, costumes, língua, saberes e personalidades.

Adentrar o universo operístico sob a luz da Ópera do Terreiros é considerar o que veio

antes, desde a diáspora africana, sua resistência, a manutenção dos saberes e das coisas

transcendentais que abriram caminhos e aos poucos ganharam espaços até então impossíveis

de se alcançar. Reverenciamos, assim, todos os que construíram, lutaram e se dignificaram na

transmissão dos saberes, tornando possível o alastramento dessa negritude fortificada no Brasil,

mais precisamente, em Salvador. Onde a África é mais baiana. Onde a identidade molda e

determina o ser negro.

É função cultural e ancestral abrir caminhos, lançar luz e ampliar os horizontes para que

esta obra alcance ainda mais terreiros pelo mundo afora, como já vem conquistando.

Emocionando a quem a vê e a quem a ouve, transmutando a realidade que se esperava em

nome de um futuro cada vez mais justo e livre como sempre deveria ter sido.

SINOPSE:

Cena 1

Brasil,

Fruto do amor dos filhos da antiga África

Que cantado em ária, rememora seu passado

Tornando latente o desejo de um futuro melhor.

Brasil, vive a recontar inúmeras histórias pelas ruas e ladeiras de Salvador

Nos portais da cidade quem o ouve, transporta-se para os portais do Benim

Seguem rumo a uma nova terra num completo desconhecido

Navegam pelo impetuoso mar de Olokun

Revivendo tormentos que destruíram sonhos, aflorando muitos medos

Onde naufragaram inúmeras histórias, restando apenas esperança.

Mas hoje, Brasil não veio contar sobre a dor

Mesmo latente e ainda presente

Ele veio contar sobre os povos trazidos da terra mãe

Resgatando todos aqueles que assumiram o compromisso de perpetuar sua história

Suas raízes e seus ancestrais.

Aqueles que trouxeram os signos que permeiam o seu sagrado e sua identidade

E que chegando à baía que aportaram primeiro, onde todos os santos os receberam

Guardaram consigo os mistérios, os encantamentos e seus saberes transcendentais.

Cena 2

Água de cheiro. Banho de arruda. Axé em templo sagrado

Terreiros firmados, há séculos são avistados e visitados

É canto, é dança, é fundamento

Ao sabor das memórias que percorreram o oceano que os separou.

Vem de Jeje, Ketu, Banto e Nagô

Na roça que bate o ponto

Maxicongo é Bate Folha de Congo e Angola.

Sejam inquices, voduns ou entidades, filhos de todos os santos

Se espalham, multiplicam e renovam sua ancestralidade

Desde a Casa Branca ao Gantois

Entre ladeiras, encruzas e matas

É o sagrado assentado e firmado, legado da nossa história.

É tempo de bater cabeça, tomar a benção e se curar.

Salve as mães baianas que iniciadas iaôs um dia foram

Salve todas elas que abençoam toda gente com seu banho de fé.

Mulheres que foram resistência e se tornaram essenciais.

Matriarcas! Mães de santo! Fonte dos saberes e dos cultos!

O elo na gira perfeita que no tempo se sente o que não se vê.

Cena 3

Na energia que emana a vibração, o Maculelê é a batida que ressoa no tempo

Tocando o passado no nascer de novos ritmos

Faz surgir samba de roda no Recôncavo, reconvexo no alcance que se tem

Na batida do tambor, ogãs dão o tom

Capoeira é sinônimo de luta ao toque do berimbau

Que encanta a quem o ouve e o vê

E vai Brasil, banhado no axé de outrora

Vem mostrar que o canto desta cidade também é seu.

Ao saírem dos terreiros emanando todo o seu axé

Blocos afro e de afoxés tomam as ruas com sua sonoridade

A sacudir, a abalar, fluindo a baianidade que faz sua gira no carnaval.

Num ato de resistência, em busca de sua essência

Brasil sobe a ladeira do Curuzu

E se põe a ecoar por toda a cidade que “a coisa mais linda de se vê é o Ilê Aiyê”

No Muzenza e no Malê Debalê se renovam a negritude

Como num levante a determinar seus espaços em nome da liberdade.

Pelo ritmo do afoxé dos filhos da paz, Salvador ganhou as telas e os livros

É festa de preto. É toque preto timbaleiro que sacode o mundo inteiro

E traz cacique afro metalizado, afrofuturismo invadindo a tradição.

Olodum, o quilombo dos ritmos sincopados

Contam histórias que não se podia contar sobre muitos lugares

Negro era rei e também divindade. Negro era o Faraó.

– Eu falei, Faraó!

Seu esquema mitológico ecoou nos quatro cantos do mundo

Coroando com turbantes os súditos de Tutankhamon

Signos mantenedores de uma ancestralidade viva! Transcendental.

No Cortejo Afro, Brasil se viu representado

Eis a Bahia que povo branco se rendeu…

Alicerçado e fortalecido pelos que vieram primeiro

Brasil, em sua “Roma Negra”, valoriza seus saberes, comungando de todas as artes

Transvestido de sua história que determina tudo o que foi e o que virá

Alimentando a todos com sua genuína identidade

Na capital que é patrimônio ancestral e que o mundo vem conhecer

Pelourinho se transforma em cartão postal

Quilombo que se materializa, força que sintetiza a luta secular por liberdade.

Cena 4

Vem chegando a negritude que dá a volta no mundo e vê o mundo girar.

Onde o amor é sempre azul

Infinito como o mar de Olokun.

Esta é a terra que o canto negro tem vez e voz. Mas que continua a lutar.

Sua ópera negra, entidade que fortalece um laço universal de união

Fomenta a negritude cultural na cidade mais africana além de África.

Nesta ópera principal, Brasil é o fruto do amor

Banto é Nkosi, Oxum é Nagô

Entre cantos e encantos, eles se enamoram em meio a conflitos

Exu abre os caminhos e rearruma os seus propósitos

Iansã faz o vento dançar pro amor acontecer

A senhora do tempo ensina que destino é coisa certa, não se pode mudar.

O amor que é banto se vai, a morte o encontrou

A filha de Oxum que fica, lamenta sua dor

Em seu canto, tal qual uma prece, sente nova vida chegar

Seu filho Brasil está prestes a nascer.

Sua trajetória se torna estandarte em prol da negritude

No panteão negro que se reconstruiu ao longo de toda sua história

Nos laços que se firmaram entre os terreiros que viraram ópera

E a ópera que se tornou terreiro também!!

Com o renovar de consciência ganhando forma

Sendo a liberdade sua fonte de inspiração

Alcança novos portos, adentrando ou rompendo outros portais

Onde o povo preto é o protagonista e se mantém ancestral

Para além dos que um dia foram tratados como senzala

E transcende a tudo o que um dia lhe fora negado

Mas que agora vem encantar o mundo

Com sua arte, sua raça, seu canto e sua cor.

E vai o Brasil

Cantando em ária sua ancestralidade

Como fruto do amor dos filhos da Antiga e da “nova” África

Rememorando seu passado, na construção de um mundo melhor!

 Argumento: Anderclébio Macêdo

 Rodrigo Almeida

Texto e pesquisa: Anderclébio Macêdo

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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posfácio de Paloma Amado. – IªEd.-São Paulo: Companhia das Letras, 2012.

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