“Eu num dô conta…”- Por Finólia Aroeira

Queridos leitores, do colégio de freiras em São João Del Rei, daquele zoológico dos infernos, com as três esposas de Satanás atormentando minha cabeça, que naquele tempo já sonhava com o Rio de Janeiro, não guardo boas lembranças. As freiras Pirângela, Úrsula e Ducolina, foram uma pedra no sapato de muitas alunas, tanto que quando consegui sair daquele lugar, me fantasiei de freira e em meio a bonecos gigantes, mascarados e confetes, brinquei meu carnaval entre o centro histórico e a Ponte da Cadeia, até o sol raiar!

“Num dava conta” dos excessos de rigidez, dos discursos em que tudo era pecado, das novenas que duravam uma eternidade, enquanto a vida escorria lá fora, pelo calçamento de pedras. Queria vir para a Cidade Maravilhosa, brincar o carnaval, dançar no meio da rua, interpretar personagens, assistir as escolas de samba na Avenida Presidente Vargas, e assisti! Quando lembro que em 1964, pude ver de pertinho a Portela desfilar e perceber como o carnaval era mais próximo do povo, bate um desânimo…

“Num dô conta” dos rumos do carnaval! Os desfiles das escolas de samba na Sapucaí, de popular não têm nada; a entrega da chave da cidade, a cada ano, beira o constrangimento; as viradas de mesa já quase fazem parte do regulamento; de vez em quando um dirigente honesto é preso, acusado por fraude; disputas descabidas por poder, prejudicam as agremiações; o componente quando sofre um acidente provocado por alguma alegoria, morre ou tem que arcar com o prejuízo sozinho. Durante os desfiles, a pista, exibe um verdadeiro cortejo de credenciais, enquanto a imprensa carnavalesca, muitas vezes não tem acesso. “Num dô conta!”

 

 

 

 

Depois não entendem porque as empresas desistem de patrocinar os desfiles ou porque falta investimento. Quem vai investir numa bagunça dessa? Por que não colocam na cabeça que são empresas e que se tiverem organização, bom senso e planejamento poderão caminhar sem depender de dinheiro público? Depois colocam apenas na conta do pastor. “Num dô conta!”

Finólia Aroeira, do Leme para o mundo- Dezembro/2018

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