Por Finólia Aroeira
Queridos amigos e leitores, aos poucos o bom velho carnaval começa a dar o ar de sua graça, nos enredos, sinopses já divulgadas e nas quadras, que já abrem suas portas para as feijoadas e ainda tímidos ensaios. Como ainda não começaram as disputas de sambas, relembro, e isso faço com maior prazer, carnavais que tive o privilégio de participar.
Em 1998, atravessei a Marquês de Sapucaí, pela União da Ilha que naquele ano, reforçara seu time com Milton Cunha, vindo da Beija-Flor e com o fantástico intérprete Rixxa. Com o enredo “Fatumbi, a Ilha de todos os Santos”, a Ilha levantou a avenida homenageando o olhar de Pierre Verger, sobre a cultura e o misticismo afro-brasileiros. Registros riquíssimos da alma de nossa gente, feitos por um homem branco que se tornou babalaô. Ele se encantou com a riqueza cultural de nosso país, quando, na década de 40, adotou acidade de Salvador, Bahia. Viajou para a África, onde foi iniciado nos cultos dos povos iorubás, recebendo o nome de Fatumbi.
Lembro que quando fomos pegar nossas roupas, faltavam ainda alguns adereços. A hora do desfile se aproximava e na rua Mileto Maciel, no Cacuia, muita gente fantasiada passava rumo à avenida. Sentamos na calçada e pusemos a mão na massa e em poucos minutos, terminamos. Seguimos pela estrada do Galeão, cantando o samba da escola em direção ao Sambódromo. A Ilha desfilou solta, com um samba cheio de cadência, melodia impecável e fechou os desfiles deixando em todos um gostinho de quero mais. O casal de mestre-sala e porta-bandeira, Jerônimo e Andréia, fizeram uma apresentação sensacional e suas belas fantasias repletas de penas de faisão, foram um show a parte. Nem os problemas com algumas alegorias tiraram o brilho da apresentação da escola, mas a deixaram em nono lugar.
Daqui a pouco conheceremos os sambas que ajudarão a contar tantas histórias. Apenas lamento a proliferação de temas tão distantes da essência do carnaval no Grupo Especial. Aposto que tem muita gente por aí achando que macumba com caldo Knorr faz algum efeito…
Finólia Aroeira, do Leme para o mundo/ junho, 2015