Fim do mundo?

Por Finólia Aroeira

Meus queridos, já estou com a casa pronta para receber, novamente, filhos, netos, agregados e aquele poodle histérico, mais uma vez! Minha enorme coleção de sambas-enredo já está separada para animar meu final de ano e infernizar a vizinhança. Ontem, no final da tarde, desci para tomar uma fresca no calçadão. Enquanto esperava o elevador, dois vizinhos, após me cumprimentarem, comentaram:

_E o fim do mundo, dona Finólia? Falaram tanto e o mundo não acabou…

Mantive a cara de paisagem, concordando com a maluquice deles. Como insistiram, resolvi responder.

_ O mundo já acabou há muito tempo, meus filhos! Vocês leem jornal? Assistem aos noticiários na televisão?

Eles riram (debocharam de mim?) e, logo em seguida, foram me explicar que foi uma previsão do calendário dos maias, etc, etc. Como não queria me estender, fiz um ar de “agora entendi”, despedindo-me dos dois mensageiros de Nostradamus.

Chegando ao quiosque do baiano, um grupinho de “simpáticos” abordou-me…

_Então, dona Finólia, o que a senhora acha dessas artistas que nada entendem de samba, a frente das baterias? Não é o fim do mundo?

Meus queridos, eu me inflamei tanto, que tirei do capeta e botei neles o que tinha e o que não tinha na cabeça!

_Vocês já viram quantas pessoas estão “internadas” nos corredores dos hospitais públicos? Lembram-se do Bateau Mouche, do Palace II, do 11 de setembro? Por acaso, o que acham do descaso das autoridades em relação a SUIPA? Vai me dizer que isso já não é o fim do mundo?

Mais uma vez, como sabem que eu já fui muito ligada ao carnaval, insistiram para que eu desse minha opinião. Acho que se arrependeram, porque tiveram que ouvir coisas que não me esqueço:

Lembram da velha-guarda impedida de desfilar; do enredo do iogurte; do Império Serrano no grupo de acesso; da Império da Tijuca injustamente rebaixada e do carro da geleira lambendo no fogo em plena avenida? Vai me dizer que isso já não é o fim do mundo? Deixem as meninas sacudirem seus silicones! Que mal há nisso? O carnaval é para todos!

Mas como tudo, em nossa cidade, é motivo para uma roda de conversa e umas cervejinhas, beberiquei bastante e acho que contagiei a todos com minhas lembranças, porque desencavaram a polêmica cena em que certa modelo foi flagrada, sem calcinha ao lado de um presidente da república, durante os desfiles das escolas de samba, em 1994. Isso é que é um mega fim do mundo! Depois de muita risada, decidi pegar minhas quatro latinhas, despedir-me e voltar pra casa. Na portaria, enquanto esperava o elevador, meu porteiro, empolgado ouvindo louvor, disparou:

_Se prepara, dona Finólia, que o IPTU do Rio vai subir ano que vem!

Eu esbocei um sorriso de canto e pensei com meus botões… “ Que suba, que desça…e que não falte minha cerveja gelada…”

Finólia Aroeira, do Leme para o mundo, 2014