Por Finólia Aroeira
Queridos leitores, depois de longos meses, finalmente, já temos enredos, seus respectivos sambas e as escolas estão a todo vapor, preparando seus espetáculos. Além disso, os ensaios técnicos já estão batendo em nossa porta e o tempo passa tão rápido, que quando menos esperarmos, estaremos na Sapucaí, no meio daquele mar de gente!
O mar que todos os anos atravessa o Sambódromo, é fruto de uma mistura ímpar, onde tantas raças e rostos se misturam, ajudando a contar parte de nossa história. Nela, infelizmente, guardamos capítulos tristes de opressão, humilhação e segregação a nós, negros. A consciência negra, transformada em feriado, é justa mas ainda temos um longo caminho a percorrer rumo aos quintais da igualdade.
Passar algumas horas na avenida, diante de tanta felicidade, nos deixa mais leves, agradecidos e nos faz lembrar que somos iguais. A grandeza de nossas escolas está apoiada na trajetória de tantos que, a cada ano, experimentam a sensação de pertencimento, provando o doce gosto do protagonismo. Impossível é não chorar, diante da poesia que vira samba; do ritmo que nos entrega de bandeja para a vida; da verdade refletida no corpo e alma de cada um; das velhas baianas girando como pinceladas impressionistas; dos trapos substituídos por veludos ou brocados; das mãos calejadas cobertas por luvas brancas. Nosso valor vai além das indumentárias carnavalescas, ele está em nossa identidade e no sangue, que também é vermelho, como o que corre sob a pele dos brancos.
Nossa luta contra o racismo é diária e a manutenção de nossa cultura, nos torna cada vez mais fortes!
Salve Zumbi dos Palmares, Pixinguinha, Cartola, Nelson Sargento, Martinho da Vila, Candeia, Nelson Cavaquinho, Ismael Silva, Paulinho da Viola, Ataulfo Alves, Lecy Brandão, Jovelina Pérola Negra, Ivone Lara, Clementina de Jesus, Seu Gilson (meu porteiro), Maria José (minha secretária), Finólia Aroeira(!), e tantos outros…
Finólia Aroeira, do Leme para o mundo/ Novembro, 2015