“Oremos!” – Por Finólia Aroeira

“Enquanto frito umas postas de namorado, penso em tudo que estamos passando e como essa pandemia transformou nossas vidas. Não vejo a hora de reencontrar a vida que deixei lá fora, os amigos, o quiosque do baiano e a feijoada da Portela e do Salgueiro. A Gustavo Sampaio nem parece mais a mesma, apesar de ainda ver um ou outro palhaço com a máscara no queixo ou pendurada em uma das orelhas. O comércio quase todo fechado é muito estranho.  

Quando a quarentena passar, lembraremos o quanto fomos fortes e conseguimos resistir. Para nós, brasileiros, acostumados a tantos beijos e abraços, o distanciamento social inaugura outras formas de afeto, e como o olhar não foi coberto pela máscara, é nele que depositamos toda a nossa esperança de dias mais leves e cordiais. Esse vírus não causa uma gripezinha, e ficar em casa é o que devemos fazer.

O isolamento social trouxe com ele uma avalanche de informações. Vivemos tempos difíceis! O povo bate panela, compra água mineral, pega o apito, passa álcool gel no apito, fica em casa, sai de casa, coloca máscara. Eu assisto o vídeo da missa, do pastor, do pai de santo, aplaudo a cantora na janela, arrumo o armário, encontro uma blusa com etiqueta da Mesbla e também minha velha máquina Kodak. Desinfeto o armário e a máquina. Assisto a live da Ivete, do Alok, do Diogo e da Teresa Cristina. Bato panela. Enquanto trocam o ministro, passo álcool gel na panela e na televisão. Chamam a Porcina, trocam o ministro, tiram a Porcina, abro uma garrafa de tubaina, ponho a luva, tiro luva, desinfeto a casa, desinfeto a luva, arrumo gaveta, encontro revistas de 1995, álbuns de fotografias, Terezinha de biquíni asa-delta na pedra da onça, além de um ingresso amarelado do show do Elymar Santos no Canecão! Lavo o banheiro, ligo a televisão, passo álcool gel no controle remoto, assisto ao jornal, mudo o canal, acompanho as novelas reprisadas, desligo a televisão. No celular, revejo os desfiles da Viradouro, Grande Rio, Beija-Flor, Mangueira, Imperatriz, Unidos de Padre Miguel, Mocidade e, por ainda não acreditar, até o caótico e infeliz desfile da União da Ilha, que resultará num “desembarque fascinante” na Série A em 2021. Saio do youtube, ligo a televisão, troco o canal, desinfeto o celular, o controle, e torço para que a ex-namoradinha encontre, junto ao povo de Israel, a Terra Prometida nos próximos capítulos!

Salve a cultura brasileira! Salve Aldir Blanc, Moraes Moreira, David Corrêa, Tantinho da Mangueira, Dona Neném, Daisy Lúcidi, Tunai, José Mojica Marins, Cláudia Telles(…)”

Oremos! 

Finólia Aroeira, do Leme para o Mundo/ Maio-2020!

 

 

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