Por Finólia Aroeira
Meus queridos, depois de ter que ir tomar banho na casa da vizinha no prédio aqui ao lado, porque a demônia da síndica resolveu, nesse calor, limpar a caixa d’água, somente uma vasculhada no baú de vinis (isso mesmo, sou do tempo do long play!), para reencontrar o equilíbrio. Para minha surpresa, encontrei um LP das escolas de samba do grupo 1 A de 1982. Naquele ano, quem levou o caneco foi o Império Serrano com o enredo “Bum bum paticumbum prugurundum”, com samba de Aluísio Machado em parceria com Beto Sem Braço. A composição profetizava algo que, na verdade, já vinha acontecendo: a festa nas mãos do capitalismo e sambistas deixando de protagonizar o espetáculo, para se tornarem meros coadjuvantes.
Estamos sobrevivendo a esse caos e não há outra trilha sonora que possa traduzir o que acontece por essas bandas do que o sensacional “Bum bum paticumbum prugurundum”, termo usado por Ismael Silva, para explicar a sonoridade da batucada.
A história se repete, com o povo sendo desapropriado de seu patrimônio cultural e ele que se contente com os ensaios técnicos ou com as arquibancadas no mangue da Presidente Vargas. Quem opta por desfilar, carrega, muitas vezes, peso e calor nas costas, ficando a mercê de “capitães-do-mato” e de seus impiedosos “chicotes”, sendo obrigados a evoluir, cantar, conquistar jurados e agradar patrocinadores.
Os forasteiros arianos e famosos são sempre bem-vindos, mas o povo do samba merecia mais consideração. Quantas meninas lindas de comunidade, não sonham com o posto ocupado por “rainhas desengonçadas” ou musas bombadas que todo ano juram que são do samba. São nada! Querem os holofotes, contratos e fama.
Quem assiste os desfiles das escolas em casa, não tem o direito de ver as primeiras, pois a programação não cede seu precioso horário para a transmissão da agremiação que acabou de ascender ao Grupo Especial ou aquela que ficou na lanterna no último carnaval. São sempre as primeiras.
O povo perde, a cada ano, o direito de participar da maior manifestação popular do país e encontra sempre as portas de sua festa pichada com as letras P e R: Pertence“aos Reis”. A história se repete!
“…Super Escolas de Samba S/A
Super-alegorias
Escondendo gente bamba
Que covardia!”
Aluísio Machado e Beto Sem Braço
Império Serrano – 1982
Finólia Aroeira, do Leme para o mundo- 2015