“Que avenida é essa? ” Por Finólia Aroeira

Av.Shirley 001No inesquecível carnaval de 1988, como em todos, procurava estar de férias do jornal, para não perder nenhum furdunço pré-carnavalesco. Guardava a boa e velha máquina Olivetti e ganhava o mundo! Tive a honra de desfilar, com Therezinha, pela Vila Isabel, que depois de uma apresentação arrebatadora, levou o caneco para as terras de Noel! Naquela segunda-feira, como havíamos chegado cedo na concentração, pudemos ver toda a escola, que entraria logo depois da Unidos da Ponte. Não lembro quem foi, mas alguém passou por nós e disse: “O Djavan virá na comissão de frente da Mangueira! ”. Saímos correndo feito duas macacas de auditório, enlouquecidas, e não só vimos, como também tiramos fotos com nosso ídolo. Quando voltamos, a Vila já iniciava seu desfile e quase não conseguimos alcançar nossa ala. Durante a deslumbrante passagem da escola, com a avenida cantando de ponta a ponta, os componentes se perguntavam: “Que avenida é essa?!”. Era  Kizomba, fazendo o povo delirar!

E o tal Apartheid, cantado pela Vila a plenos pulmões, continua sendo uma luta diária com tanta desigualdade social, cultural, linhas de ônibus extintas e a zona norte e baixada fluminense cada vez mais isoladas e esquecidas; a transmissão dos desfiles das escolas de samba, monopolizada, ignorando, solenemente as duas primeiras agremiações e o povo que se contente com o compacto gravado ou assista seus pavilhões da arquibancada do mOlivettiangue fedido!

Aí eu pergunto o que fazer quando alguém nos aborda, como aconteceu comigo ontem na avenida Princesa Isabel(!), e nos pergunta: “Por favor, senhora, como faço para chegar na avenida Shirlei, no centro da cidade? ”. Meus queridos, que avenida é essa? Será a avenida Chile? “…E que o Apartheid se destrua! ”.

A saideira e a conta!

Finólia Aroeira, do Leme para o mundo/ Maio-2016

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