“O início da quarentena foi a oportunidade para arrumar os armários! Também vi que teria tempo de sobra para colocar em dia a leitura. Planejei, inclusive, escrever algumas coisas, mas o tempo foi passando e junto com ele fui passando Nutella em tudo que via pela frente! Não tive ânimo de fazer nada, a não ser comer, dormir, comer de novo, ver televisão e dormir mais meia hora!
Depois de meses dentro de casa, desinfetando tudo que comprei e continuo comprando, resolvi sair para fazer as unhas. Ainda preciso conseguir espaço para guardar as cintas térmicas, frigideiras, ômega 3, imagem de santo, medalha milagrosa, pipoca, remédios, arroz, edredom e pano de prato que, definitivamente, não precisava!
Enchi dois vidros com álcool em gel, separei dois pares de luvas, um protetor facial de acetato e quando fui pegar as máscaras que havia deixado na janela para secar, uma delas saiu voando do sexto andar. Fiquei vendo minha máscara florida planar livremente, até esbarrar no fio, aterrissar na calçada e ser resgatada por um morador de rua, que imediatamente a colocou no rosto e saiu desfilando seu novo acessório pela Gustavo Sampaio.
O segundo sábado de setembro lotou a orla! Por instantes achei que encontraria algum camelô vendendo a vacina contra a COVID-19, tamanha aglomeração no caminho até o salão. Não sei como consegui ficar desde março sem fazer as unhas e na hora marcada cheguei, higienizei as mãos e fiquei aguardando a manicure com minhas unhas homenageando Zé do Caixão.
No caminho de volta, me senti até mais leve. Encontrei vizinhos, comerciantes conhecidos e até o morador de rua, que me cumprimentou, todo estiloso, usando a máscara florida de forma correta. Na portaria, um dedo de prosa com Josias, o porteiro: as chamas no Pantanal, os flagrantes de racismo, a indefinição de quando será o próximo Carnaval, a prisão de políticos e a torcida para que as quase cento e quarenta mil vítimas da pandemia venham puxar o pé de alguns deles. E para terminar, ele completa: “Ah, Dona Finólia, colocaram tornozeleira eletrônica na “Flor”! ”, e eu entrando no elevador respondo: “ Josias, “Do pé que brotou Maria, nem margarida nasceu! ””.
Subi para casa mais feliz do que antes, ouvindo a gargalhada dele! Acho que estava precisando desse respiro. “Valei-me, Deus…”. ”
Salve Djavan!